Tuesday, July 25, 2006

O ARRANJO DAS MAMINHAS


A Guidinha,
era uma figura apócrifa que dava corpo a uma crónica de Luís de Sttau Monteiro no vespertino
Diário de Lisboa.
Luís de Sttau Monteiro deixou-nos precocemente, O Diário de Lisboa já não existe (e não teve bom fim), mas a Guidinha, ainda podemos ouvi-la. Se formos capazes…

(A Guidinha, não sabe nada de nada. Apenas tenta contar o que vê e ouve aos outros.
Não usa vírgulas nem parágrafos)

O Arranjo das Maminhas

No passado Domingo vi um programa muito engraçado na televisão. Era sobre aquelas operações que fazem a várias partes do corpo especialmente às maminhas para ficarem maiores ou mais pequenas conformes com a moda ou com o exagero que tenham para mais ou para menos. A minha mãe disse que aquelas mulheres que fazem aquilo são todas umas parvas mas isso é a opinião dela que conta pouco porque o meu pai diz que ela tem as maminhas mais bonitas do bairro e isso também é a opinião dele que conta pouco porque assim que agente saiba ele só conhece mesmo bem as maminhas da minha mãe. O meu tio-enciclopédia que vocês não sabem mas eu um dia destes vou falar-vos dele disse que não era bem assim porque há raparigas e mulheres que têm as maminhas tão grandes que isso faz mal aos ossos das costas e a outras coisas do organismo e aí os médicos fazem uma redução e elas ficam melhor e não faz mal nenhum pelo menos que os médicos saibam. Mas o que mais se discutia no programa era se pode fazer-se essa operação de aumentar ou diminuir as maminhas antes de sermos grandes aí para os dezoito ou dezanove anos. E os médicos cirurgiões entrevistados uns diziam que sim e outros que não mas a mim pareceu-me que os que dizima que sim tinham uma conversa menos séria e falavam assim porque aquilo dá muita massa a ganhar e o meu avô também disse o mesmo que eu estava a pensar. Depois veio um médico psiquiatra um afinador das ideias como diz o meu tio-enciclopédia e fez assim como quem diz o desempate. Ele diz que é preciso ter cuidado porque não há nenhuma operação que não tenha os seus riscos e um cirurgião também disse o mesmo e que quase dez por cento das pessoas que querem fazer alterações na sua imagem corporal é porque sofrem ou estão passando por alguma maleita da mente. E que os cirurgiões o que deviam fazer não sendo naqueles casos em que todos os médicos concordam que é útil e até necessária a operação era mandar as pessoas falarem com um psiquiatra antes da operação. E eu sei que é assim porque a minha tia Aurora tiraram-lhe uma maminha em Coimbra porque ela tinha um tumor e depois eles fazem umas operações que é para as pessoas ficarem outra vez com duas maminhas e isso às vezes obriga a reduzir um bocadinho a que está boa que é por causa do equilíbrio do peso das maminhas e mesmo para isso as pessoas são ajudadas a decidir por um psiquiatra que trabalha em equipa com o cirurgião. Até foi giro porque eu perguntei à minha tia para que era que ela andava no psiquiatra e ela como que adivinhando qual era a minha dúvida se ela estaria pouco boa da cabeça explicou-me que um psiquiatra não é só um médico de doentes da cabeça é também uma pessoa que ajuda as pessoas a pensar quando a decisão é difícil ou desconhecida. Acho que foi assim que ela disse e disse que as pessoas pensam que o psiquiatra é um médico de tarados porque o nosso senso comum é praticamente analfabeto e então quando as pessoas se põem a pensar ou a falar de coisas que não conhecem o que sai é só bolas à trave. E a minha tia ficou muito bem e portanto é assim que as coisas se fazem e o resto é ignorância ou negócio. Alguém disse no programa que era preciso muito cuidado para não fazer aquela coisa do silicone para fazer as maminhas grandes e até fizeram assim um trocadilho que achei engraçado. Diz que adolescência é uma fase da vida em que há grandes desejos de mudança mas também há grandes mudanças de desejo é giro não é? Um dos cirurgiões também disse mesmo que fazer aquilo antes dos dezoito ou dezanove anos era errado. E parece que há uma coisa chamada ordem dos médios que é para fiscalizar o trabalho deles mas alguém disse que essa ordem só intervém em caso de queixa que o meu irmão até aproveitou para dizer ao meu pai que se ele seguisse o exemplo daquelas pessoas dessa tal ordem que certamente são todos doutores não andava sempre a chagar a cabeça à gente quando pomos a música mais alta para os nossos amigos que vêm cá a casa e esperava mas era que os vizinhos fossem fazer queixa à polícia e depois sim é que nos dizia alguma coisa. Mas o meu pai moita porque os pais são mesmo assim como todos os poderosos só ouvem o que lhes convém e só falam quando lhes dá jeito. Eu cá gosto das minhas maminhas como elas são e acho que quando acabarem de crescer vão ser como as da minha mãe e por isso aquela conversa toda até nem me interessa para nada. Mas fiquei preocupada porque um dos médicos disse que virá um dia em que se perdem os preconceitos e as pessoas vão fazer cirurgia plástica como hoje vão ao cabeleireiro. Pois é mas depois os rapazes vêm a saber disso e depois quando passarem por uma garina assim giraça com eu em vez de dizerem «ganda borracho!» começam a dizer «ganda cirurgião» e assim a coisa perde a graça. Pronto mudam-se os tempos mudam-se os piropos fazer o quê não é? E foi assim.

Bjocas.

Guidinha

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Também vi essa reportagem na SIC.
De resto, muito muito bem feita.

Só fiquei com uma dúvida: aqueles pais que assinam para as menores fazerem alterações cirúrgicas ao corpo em função da beleza, quando o que está em causa é a integração em agências de modelos e logo a miragem do dinheiro fácil, aquela tutela paternal não devia ser discutida pelos Tribunais de Menores... seja lá isso o que for?

Ainda me lembro, há poucos anos, de se fazerem acérrimas críticas aos pais de um rapazinho que aparecia por aí nos eventos de música pimba a imitar o Quim Barreiros (Saúl, não era?) porque poderiam estar a alienar o crescimento do filho para beneficiaraem do dinheiro fácil... Mas esse, ao menos, não era sujeito a nenhuma operação cirúrgica...

É que esta história de pais que assinam a responsabilidade de cirurgias perturbadoras do organismo para as filhas serem modelos, cheira-me assim a uma nova versão dos "Castratti". Eram uns meninos que os pais mandavam castrar, nos Séculos XVIII e XIX, para cantarem nas óperas da Europa com uma voz efeminada que teriam perdido após puberdade... se não lhe cortassem os colhões!...
E ERA ASSIM...,
como diria a Guidinha.

Ai... Que saudades de Luís de Sttau Monteiro...

8:51 AM  

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