Monday, July 17, 2006

Guidinha e O polícia sortudo




O Polícia Sortudo

A Guidinha,
era uma figura apócrifa que dava corpo a uma crónica de Luís de Sttau Monteiro no vespertino Diário de Lisboa.

Luís de Sttau Monteiro deixou-nos precocemente, O Diário de Lisboa já não existe (e não teve bom fim), mas a Guidinha, ainda podemos ouvi-la. Se formos capazes…

(A Guidinha, não sabe nada de nada.
Apenas tenta contar o que vê e ouve aos outros.
Não usa vírgulas nem parágrafos)



O meu pai é um sortudo do caraças e a minha mão até diz que não que sortudo foi o polícia que lhe passou a multa mas o meu pai tem outra visão da coisa e diz que não que o sortudo é ele. O melhor é eu explicar porque nisto de polícias e ladrões lá diz o meu avô às vezes a gente até quanto mais explica menos entende. A história é muito simples e foi assim o meu pai ia a conduzir o nosso carro que é uma coisa que ele diz que faz cada vez com mais cuidado e apanha cada vez mais multas que até a minha avó que nunca tirou a carta mas sempre foi muito desconfiada diz que então se ele tem cada vez mais cuidado e apanha cada vez mais multas logo se vê que se alguém mudou para pior foi a polícia e não ele. Coração de mãe a falar diz o meu irmão e é capaz de ter razão mas eu também acho que o meu pai conduz cada vez melhor e não percebo esta revoada de multas que ele tem apanhado desde que ficaram mais caras. Mas a história que eu estava a contar tem a ver com uma multa que o meu pai entendeu que não devia pagar não vou explicar porquê porque eu também não tenho carta e às tantas ainda metia os pés pelas mãos mas o meu pai disse «não pago» e não pagou. E lá foi com aquilo até ao tribunal pela mão de um advogado e tudo como manda a lei. E lá estava também o polícia da multa no tribunal acho eu que na qualidade de testemunha a defender o interesse do Estado que é como quem diz a sua versão do momento da multa. Certo é que o meu pai perdeu o julgamento e ficou condenado a pagar a multa e as custas do processo e aí é que a coisa se complicou porque a multa era de cento e vinte Euros e a multa mais as custas foi tudo parar a trezentos e setenta Euros. O meu pai achou muito já se vê e pediu ao advogado que lhe explicasse mas o doutor também não entendia aquilo porque quilo tem uma tabela e não estava lá nem perto. E lá foi o advogado ver o processo que foi para isso que o meu pai lhe pagou e descobriu o mistério que foi assim um azar dos diabos que o meu pai em cima das custas normais do tribunal ainda teve de pagar cento e cinquenta Euros ao polícia porque ele diz que estava a gozar três dias de férias em Rio de Onor que é uma aldeia que fica lá para onde Judas perdeu as botas meia portuguesa meia espanhola e o julgamento foi em Lisboa e acertou logo no dia do meio. O meu avô diz que aquilo é tudo uma grande aldrabice e o advogado até explicou que o primeiro papel que o polícia apresentou a pedir a guita o juiz até o mandou pastar mas o fulano voltou a meter outro papel e isto dos juízes se calhar é mesmo assim cada cabeça sua sentença e o segundo papel foi despachado por outro juiz que deu razão ao shôguarda. Azar do caraças disse a minha mãe logo o raio do polícia havia de tirar os três dias de férias naquele dia e logo havia de ir para tão longe logo agora que eu tinha esse dinheiro de parte para os cortinados e disse o meu avô que se fosse com ele aquilo ainda não ficava assim arrufos de velhote digo eu. Já o meu pai que foi sempre funcionário público e por isso está muito treinado a obedecer e pagar e calar diz que até teve muita sorte sendo a lei então o que é ele é que não sabia «olhem lá se o polícia tivesse ido de férias para a Nova Zelândia quanto é que isto não me custava? A sorte que eu tive o gajo estar em Rio de Onor e termos assim um país tão pequeno». E foi assim.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Coitados dos CAPITÃES DE ABRIL... Para quê, aquele esforço...
Aquele risco....??????

Se era para voltarmos aesta merda...

8:55 AM  

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